B10 na Dinamarca: um relato de como tudo aconteceu

Yuri Vasconcelos conta todo o processo e todas as histórias que marcaram a viagem da torcida organizada para Copenhagen, nos Majors de CS e Rocket League.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
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Texto escrito por Yuri Vasconcelos, Head de Comunidades da FURIA e Diretor da torcida Dezorganizada Furiosa B10, com seu relato pessoal sobre a viagem.

Primeiramente, é um prazer estrear minha participação nesse projeto lindo chamado The Move! E é duplamente especial pois tenho a oportunidade de dividir com vocês uma fração do que foi esse projeto que me permitiu levar 18 pessoas, dos quais a grande maioria nunca tinha saído do país, para cruzar o oceano e pisar em solo europeu trazendo toda a brasilidade, batuque e alegria que só o nosso povo consegue exportar!

Mas antes de chegar nesse clímax, eu preciso situar vocês do porquê esse projeto era tão importante para mim. Quando há um ano eu me conectava profissionalmente à FURIA, um dos meus primeiros objetivos era levar toda aquela atmosfera incrível que vivemos no Major Rio e IEM Rio para Paris no último major de CS:GO. A FURIA, na figura do meu gestor que é o Akkari, comprou essa loucura e começamos todo o trabalho de viabilizar essa viagem. Quando achávamos que tudo ia dar certo, veio o baque com o 0-3 no Legends e um clima ruim nos bastidores, e achamos melhor dar um shutdown no projeto e deixar ele guardado para uma próxima oportunidade. 

Agora, dando um panorama geral de quem são as 15 pessoas que configuram uma “Diretoria” da torcida, eles são uma galera heterogênea ao extremo, temos desde pessoas nascidas em família de classe média-alta até gente que não pode sair da favela se o tráfico disser que não! Então imagina a ansiedade dessas pessoas que estavam com um pé em Paris e acabaram assistindo o Major pela stream. Foi duro, meus amigos, mas todos entenderam nossas questões e viram que a FURIA fez o possível e o impossível para viabilizar o projeto.

Seguimos quase 1 ano depois, a Bateria cresceu, foi pra BGS, CCXP, MEG, FURIA JAM, Six Invitational, VCT LOCK//IN, afiou os instrumentos, se estabeleceu no cenário de entretenimento de esports e cruzou a Dutra uma dezena de vezes. Mas faltava ainda aquele projeto, que ficava na base do meu crânio e vez ou outra latejava, que era o de cruzar as fronteiras brasileiras com esse batuque! As conversas nunca pararam, eu sempre fui um cara que abraça a loucura, Akkari sempre gostou dos loucos, e a bateria é insanidade pura. Portanto, ficamos meses trazendo sempre esse tópico ao fim das nossas calls pra tentar ver como a gente conseguiria colocar o pessoal no Major de Copenhagen. Partimos pra busca de um parceiro comercial que topasse chegar junto e além do âmbito social, dividir conteúdo e riscos, principalmente financeiros.

Foi quando surgiu um dos grandes protagonistas dessa história, a Buffly, representada pelo Guga [Gustavo Noronha, Idealizador e Gestor da Buffly], que viajou com a gente e se mostrou um dos caras mais parceiros que se pode pedir em uma viagem. A Buffly, que é acostumada a fazer o trabalho de logística de diversas orgs e empresas, buscava um novo produto: conectar os campeonatos e a comunidade! Teria um casamento melhor que esse? Fizemos duas reuniões e eu mandei uma mensagem pro Akkari dizendo que tinha arrumado um parceiro comercial para custear parte do projeto. Ele me ligou na hora e mandou arrumar as malas que a gente ia colocar o projeto pra frente! Aqui quero abrir um espaço para elogiar esse mago do poker chamado André Akkari. Sem ele vendo fora da caixinha e orquestrando nos bastidores o direcionamento onde a Pantera tá apontada, nosso impacto sociocultural seria completamente diferente!

Agora que estamos todos devidamente “briefados”, (nossa to andando muito por SP), vou contar a vocês como foram nossos dias em Copenhagen!

Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.

Começamos todo o trabalho de logística. Em uma semana, eu e Guga fechamos a hospedagem, meios de transporte, passagens, seguros, termos e a preocupação ficou com os documentos e deixar essa galera pronta pra viajar. Eu estava nessa responsabilidade de fazer tudo dar certo e não deixar ninguém se matar! Até porque a maioria ali não tinha nem passaporte antes da possibilidade de ir a Paris, então os pormenores de aeroporto, polícia federal, imigração, etc, era todo desconhecido por eles.

A bateria se reuniu no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e de lá a gente pegou um voo para a França. Iríamos ficar de 10 a 11 horas no aeroporto, então a gente decidiu que íamos aproveitar essa oportunidade para conhecer a Torre Eiffel e o Rio Sena, porque seria a única oportunidade em muito tempo para a maioria das pessoas ali. Nisso, no aeroporto, já desde o Rio de Janeiro, a gente já vinha brincando, zoando, fazendo vídeo, fazendo conteúdo, simplesmente porque estava todo mundo tão feliz de estar realizando aquele sonho e assistir um major em outro país que transbordava o tempo inteiro.

Quando chegamos em Paris, saímos do aeroporto, pegamos um metrô e fomos direto pra torre. Estava chuviscando um pouquinho no dia, mas isso não tirou a mágica do momento... Todos ficaram muito emocionados quando a gente avistou a torre de longe. E daí foi só festa, todo mundo querendo tirar foto, vídeo, se abraçando, porque acho que ali caiu a ficha pra todo mundo, né? De onde a gente estava, do que a gente tinha conseguido alcançar. Pra mim foi duplamente especial pois tirou aquele peso nas costas de ter frustrado e planos no ano passado.

Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.

E aí a gente foi, conheceu o Rio Sena e de lá a gente voltou pro aeroporto de metrô de novo e trem e pegamos o nosso voo para a Dinamarca. Chegamos na Dinamarca por volta de meia-noite, meia-noite e meia, e pegamos as vans para ir direto ao nosso Airbnb. Quando chegamos, já tinham algumas pessoas que saíram do Rio de Janeiro e encontraram a gente lá, inclusive o Guga da Buffly, e já estavam esperando a gente já com pizza. Chegamos na resenha, cantando música, e decidimos que a gente não ia desperdiçar nem um minuto lá na Europa. Nos arrumamos, e saímos direto para a gente conhecer a noite da Dinamarca. 

Isso tudo era três horas da manhã, a gente pegando a van para catar algum lugar aberto. Achamos um pub, um barzinho lá muito underground no centro de Copenhague. Fomos, ficamos ali e começamos a nos enturmar, fizemos amizade com dois gringos e aí daqui a pouco foram chegando mais gringos, e quando a gente viu já tinha gente fazendo passinho, dançando no meio da rua, cantando, botando música na JBL 4 horas da manhã na porta do bar. Fechamos o bar e os gringos chamaram a gente pra uma balada depois. Fomos todo mundo junto pra balada. Acabou que a gente não conseguiu entrar porque a gente descobriu que em Copenhague a maioria das boates têm um código de vestimenta e essas roupas meio streetwear de moletom não entram. Então a gente acabou que ficou no meio da rua curtindo. Foi legal porque os gringos também não entraram e ficamos resenhando até de manhã lá fora. Na volta ainda deixamos um dos gringos em casa antes de voltar pro airbnb.

Chegamos na Airbnb, mal dormimos, já acordamos pra nos arrumar e irmos pra Royal Arena. Tínhamos combinado que chegaríamos na porta um pouco antes de começar o evento, porque até então a gente não estava com os ingressos - os ingressos que conseguimos eram só 4 por dia em parceria com um dos patrocinadores do evento, então quase ninguém da bateria conseguiria entrar, né? - E aí a gente decidiu que ia lá pra fora, fazendo batuque e vendo o que ia dar. Pela nossa experiência, coisas mágicas costumam acontecer quando a bateria começa a batucar! E não foi diferente!

Quando a gente chegou, já encontramos de cara o BT, Liminha e toda equipe da GaulesTV que também estavam “barrados”, e a gente começou a fazer festa lá fora, por nós mesmos, e aí acabou que rolou aquele primeiro dia de transmissão no Gaulês com a bateria que foi incrível. A gente ficou mais de 10 minutos com a transmissão e o Gaulês inclusive depois falou na live dele que foi a melhor transmissão de Major sem estar cobrindo o Major que ele já viu. 

Além de termos nos divertido muito, foi a oportunidade que a gente teve pra dar o merecido palco pra FURIA e pra Buffly que viabilizaram esse projeto. Foi a oportunidade de mostrar a trajetória de vida do Lovinho, que é um moleque que está com a gente desde o dia um no Major, e a vida dele mudou completamente por conta da bateria e por causa da FURIA. Mostramos que por causa desse movimento ele e outros que estavam ali, estavam contrariando estatísticas e realizando sonhos.

Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.

Depois de um merchan, modéstia a parte, muito bem feito pra 30mil pessoas online, as redes da Buffly saíram de 100 pessoas para mais de 2mil! O burburinho foi tão grande de pessoas procurando a Buffly para outros eventos que, com uma ligação, Guga viabilizou os nossos ingressos e conseguimos entrar na Royal Arena para assistir o primeiro Major de CS2. De início, a gente até conversou com a torcida da Vitality, e perguntamos se eles queriam que batucássemos com eles, pra mostrar um respeito também porque era o time deles que ia jogar naquele dia, mas eles falaram que tinham umas coreografias específicas e que era melhor cada um fazer sua festa. Respeitamos e fomos para um lugar da arena que eles indicaram, que era o que estava mais vazio, porque a gente entrou já no meio do evento, como a gente não tinha ingresso antes.

E aí ali a gente começou a fazer a nossa festa, começou a torcer. No começo era só a gente, mas depois foi juntando todos os brasileiros que estavam lá por eles próprios, até o pessoal que estava ali de frente pro palco, abriu mão do ingresso mais caro pra vir pra arquibancada pra colar com a bateria e fazer festa. E aí começou a chegar muito gringo também, muita gente pra cantar! E aí, sempre rola aquela festa de pessoal pagar bebida pra bateria. 

No intervalo, a gente sempre brincava e cantava música do Brasil, das torcidas do Brasil, da FURIA, era festa pela festa, pra enaltecer a comunidade brasileira gigantesca. O tempo inteiro a câmera do evento filmando a gente, até que já quase no final do evento veio o pedido dos casters para que a gente parasse de tocar a bateria. E aí, quando veio esse pedido, de início eu não acreditei que era um pedido dos casters, fui perto da cabine deles e perguntei se era verdade pois os mesmos casters quando estavam no Brasil no IEM RIO e Major Rio tinham nos elogiado e feito conteúdo conosco por quase 15 dias, a resposta que eu tive foi: “We have a shit audio so we cannot listen anything but your drums” [tradução: "Nós estamos com um áudio ruim então só escutamos a sua bateria"). Nessa hora não acreditei que nossa bateria e festa só era interessante em solos tupiniquins. Eu perguntei ao responsável da PGL que veio até a bateria e ele falou que era porque nosso barulho estava atrapalhando a transmissão. Eu entendi e perguntei se não poderíamos apenas trocar de lugar, porque até então a gente não tinha ideia que estava atrapalhando pois durante o dia inteiro ninguém falou nada. E de qualquer maneira, nossa intenção não era confrontar nem atrapalhar o evento, apenas fazer nossa festa e torcer do jeito que a gente sabe torcer. Mas o rapaz foi irredutível e falou que era pra parar completamente com a bateria. E aí foi quando aconteceu toda aquela repercussão nas redes sociais a partir do vídeo que eu gravei.

Nessa hora nós ficamos chateados pois tínhamos vindo do outro lado do mundo, depois de vários eventos sendo enaltecidos por nossa paixão e forma de torcer, pra entender que lá o nosso jeito de apoiar é um estorvo para os gringos. Foi um aprendizado, não queremos de forma nenhuma incomodar, principalmente sem um time brasileiro jogando, nos recolhemos à assistir os últimos mapas e entendemos finalmente que, anos depois de FalleN e sua turma, transformaram essa arena em uma biblioteca. Desde então “too much noise” ["muito barulho"] é um problema!

Quando chegamos, metade decidiu sair e metade decidiu ficar em casa pois estavam muito cansados depois de batucar o dia inteiro. Só que isso já era quase de madrugada, saímos e achamos um lugar que era de graça, o que é uma iguaria na Dinamarca, porque tudo lá é muito caro e paga pra entrar. Entramos, os homens conseguiram entrar nesse lugar de calça de moletom, não pediram documento e nem falaram nada. A noite foi muito divertida, tinha uma placa no lugar que era escrito para dançar em cima da mesa, então todo mundo dançava em cima da mesa e era bar e boate, enfim, a gente saiu de lá de manhã, saímos dançando no meio da rua com a nossa JBL com funk tocando até chegar em casa. E aí, no dia seguinte era dia livre, porque nem o Rocket League jogava, e o CS a gente já sabia que não ia ter também. 

E aí foi o dia que a maioria de nós combinou de ir no Tivoli Parque, conhecer a os arredores da cidade. Lá dentro, o pessoal sempre na mesma vibe de alegria, fazendo aquela bagunça, a gente não consegue se juntar sem fazer bagunça onde a gente vai, né? Então, todo lugar que a gente ia era um evento, as pessoas reconheciam a gente dentro do Tivoli Parque, perguntavam: “eram vocês que estavam no CS ontem? Poxa, senti a falta de vocês no outro dia, foi muito legal, voltem pois não é o mesmo sem vocês." 

E conhecemos também o QG Astralis Nexus, ficamos por lá, assistimos o jogo de Rocket League da Furia, fizemos amizade com uma outra torcida organizada, que era dos “Gentle Mates”, que inclusive colaram com a gente lá no estádio do Rocket League, ficaram perto da gente depois. E no final do dia, dentro do Tivoli Parque, a gente botou música na JBL, ficou dançando dança da cordinha, na boquinha da garrafa... Ninguém entendia nada, mas a galera curtia, vinha junto. 

No meio do Tivoli tava muito frio e decidimos tomar um chocolate quente. Mesmo sendo tudo caro, decidimos pagar pelo aquecedor do lugar que fôssemos. Quando chegamos lá, pedimos chocolate e aí foi que aconteceu uma situação muito engraçada, porque o Leogod foi e perguntou se tinha “water of the house”, tipo água da casa. A gente riu, o cara falou que não e a gente ia seguir assim sem a água da casa. Nisso, o Bernardo falou: “ah, isso é tap water, que é tipo água da bica e é assim, não paga”. Ele foi e pediu a tap water. Quando o garçom trouxe os chocolates, chegaram quatro garrafas de água e achamos que seria tudo de graça. Mas quando chegou a conta, só de água deu mais de 120 reais. Tivemos crise de riso no restaurante porque foi mais cara a água do que o chocolate quente, a água da bica mais cara que já pagamos na vida.

Depois disso, a gente voltou pro Airbnb e o primeiro grupo tinha falado tanto desse lugar que as pessoas dançavam em cima da mesa que decidimos ir todos lá de novo. E aí, fizemos aquela pré, né? Estava todo mundo muito pilhado!

Quando chegamos na boate, aconteceu talvez o episódio mais lamentável de toda a viagem, mais até do que o pickpocket (mais pra frente). Vimos que eles estavam pedindo documento na porta, coisa que não pediram pra gente no dia anterior. Então decidimos que as pessoas que não levaram documento físico ficariam na frente porque se eles encrencassem, ninguém entraria. Enfim, entramos na fila, e os primeiros da fila eram o Sapão e o Lovinho porque eles estavam sem o documento. Nisso, a gente percebeu que o segurança estava falando muito com o Lovinho. Eu fui lá para ajudar na tradução e ver o que estava acontecendo, já cheguei com o cara sendo bastante rude com o Lovinho, arrumando várias desculpas para não deixar ele entrar. Em nenhum momento ele pediu o documento do Lovinho, ele só começou a falar que ele não poderia entrar, porque ele estava com a vestimenta inapropriada, pois estava de moletom. Questionamos o segurança, pois no dia anterior fomos com a mesma roupa e não tivemos problema, mas que iríamos em casa trocar de roupa e voltaríamos. Ele na mesma hora falou que não seria possível que ele (o Lovinho) não poderia entrar de qualquer maneira porque ele não falava inglês. A gente falou “mas é uma boate ninguém nem conversa lá dentro e nós somos um grupo de 15 pessoas que metade fala inglês e metade não fala”. Ele continuou insistindo que ele não poderia entrar de jeito nenhum, e nessa hora ficou bem claro o motivo dele ser barrado. Na fila tinham vários russos e outras nacionalidades caucasianas que não falam inglês então o real motivo de barrarem ele e nossa galera ficou evidente e foi algo que me deixou extremamente irritado, a gente ficou muito [bravo] nesse dia porque na nossa interpretação foi claramente porque os meninos eram negros, porque o segurança virou ainda para outras pessoas do grupo e falou “Se vocês quiserem entrar, podem entrar, eles não vão entrar.”. Lovinho e os meninos ficaram nitidamente abatidos, e falamos com o segurança que todo mundo ali sabia o verdadeiro motivo deles não poderem entrar.

Os meninos ficaram cabisbaixos, obviamente, porque uma situação dessa ninguém quer viver. A gente ficou triste também, porque presenciar isso e não poder fazer nada, não conhecer as leis do país, a gente não sabia o que poderia fazer. E a gente saiu pra se divertir, né? Então conversamos com eles e fomos para outro lugar, para um outro bar que tinha ali do lado, que era um bar/ karaokê/ boate. E lá ninguém perguntou nada, ninguém pediu nada. E aí a noite foi passando e a gente foi conseguindo começar a curtir. Um brasileiro que viu nosso post no instagram pegou um taxi e cruzou a cidade pra encontrar com a gente, encontramos outra brasileira lá e estávamos curtindo a noite, até batalha de rima com beatbox de gringo rolou no andar de baixo do lugar.

Nesse meio tempo, essa menina que era brasileira, foi cantar uma música no karaoke. E aí, tinham uns gringos que estavam nesse movimento, querendo conversar com as brasileiras desde que chegamos, foram e começaram a fazer meio que um bullying com a brasileira que foi cantar no karaokê, vaiando, gritando pra ela sair. Eles ainda tentaram fazer com que a gente se juntasse naquela situação meio patética e a Ully respondeu pra eles só que não faria parte e que eles não deveriam fazer aquilo. Ele não gostou de ser repreendido, virou no ouvido do Jay da torcida e falou “fala pras suas amigas saírem do meu país e voltarem pro delas pois elas não são bem vindas aqui”. Isso foi só mais uma situação pra conta daquela noite, infelizmente. 

Mas a gente estava numa vibe muito boa, todo mundo junto só querendo aproveitar e tentamos não dar atenção para essas coisas que estavam acontecendo. Acabou a noite e, obviamente, fechamos o lugar e fomos os últimos a ir embora. Mais uma vez, com a nossa JBL, fomos lá pra fora, ficamos dançando e conversando na calçada, que ainda estava cheia de gente.

Nessa hora, simplesmente tentaram furtar duas pessoas do nosso grupo, a Laura e o outro brasileiro que colou com a gente. Sendo que, obviamente, todo mundo do Rio de Janeiro, infelizmente acostumado com esse tipo de situação, estava todo mundo atento. A gente conseguiu ver e seguramos os pickpockets gringos e ameaçamos eles até um deles jogar o celular no chão e perceber que eramos um grupo de 20 pessoas. A gente nem ficou triste, só deu risada porque seria o maior cúmulo, sairmos do Rio de Janeiro para sermos furtados na Dinamarca, iam barrar nossa entrada de volta aqui! Irmão, carioca nunca tá com o alerta desligado, em qualquer lugar do mundo!

E aí voltamos para casa de manhã mais uma vez com a mesma animação cantando dançando no carro, chegamos e descansamos um pouco dormimos e acordamos porque esse era o dia que a gente ia estrear no Rocket League. Preparamos os nossos instrumentos, nossas bandeiras, saímos e pegamos a van para a Royal Arena primeiro, pois tínhamos combinado com um patrocinador de gravar um vídeo com eles na porta da arena. Acabou que saímos de novo na transmissão do Gaulês e muita gente veio falar com a bateria que sentiu nossa falta no dia anterior. 

Fomos direto depois para a arena do Rocket League, e a gente tava muito receoso de acontecer a mesma coisa que aconteceu na Royal Arena com os nossos instrumentos, não queríamos de jeito nenhum ser proibidos de tocar porque a gente estava ali para apoiar a FURIA no Rocket League, esse era o nosso foco da viagem. Por conta disso, optamos por não torcer nem tocar antes do jogo da FURIA, justamente porque se fossem brigar ou proibir, iríamos torcer antes. Acabou que a recepção da bateria não poderia ter sido melhor. Por ironia do destino, o lugar que conseguimos ficar foi mais uma vez atrás dos casters, mas ao contrário do CS, os apresentadores estavam dançando, curtindo e o tempo todo falando bem da nossa festa na transmissão. Até um funcionário da organização do campeonato veio elogiar e agradecer a gente. Infelizmente a FURIA perdeu, mas conseguimos levar aquela atmosfera brasileira para Dinamarca e pra torcer pra FURIA. 

Nesse dia ficou todo mundo meio pra baixo por conta do resultado então decidimos nem sair, só ficar em casa e pedir umas pizzas. Era pra ter sido tranquilo, mas achamos um teclado e um violão no Airbnb e ficamos até quase de manhã cantando, rindo e fazendo live.

No dia seguinte, como não tinha mais FURIA jogando, a gente decidiu ir conhecer o canal Nyhav e fazer alguns passeios pequenos antes do compromisso que a gente tinha marcado com a Golden Hornets e com a Heroic. Então nós fizemos ainda dois trabalhos ali à tarde e foi muito legal, principalmente com a torcida da Vitality porque a gente conseguiu se conhecer, se conectar pessoalmente, então eu acho que isso só vai trazer benefícios para a comunidade como um todo. Eles já estão falando de querer vir para eventos aqui no Brasil também, para juntar com a nossa bateria, então todo o nosso projeto de “desfutebolização” da parte ruim da torcida organizada de futebol está funcionando. Sempre que tem oportunidade, a gente dá mais um passo e faz mais uma conexão com alguma torcida tanto do Brasil e agora lá de fora. Então a gente já tá se conectando e criando esses laços pra mais pra frente a gente conseguir evoluir. Foi muito legal a experiência, a gente tocou junto, eles ficaram encantados com o repique, porque a torcida deles só tem um surdo e uma caixa, e é uma caixa diferente da nossa. Então eles gostaram muito, ficaram fascinados, queriam tocar os nossos instrumentos, a gente tocou os instrumentos deles, além de aprender as músicas deles e ensinar o nosso poropopó. Depois disso ainda fizemos a gravação com o pessoal da Heroic, musicamos na hora uma música que eles fizeram e demos um toque de samba que eles adoraram. Saindo do almoço, uma parte foi para a final do Major gravar conteúdo e interagir com a galera, e outra parte foi conhecer Cristiania, uma cidade que merece uma postagem própria dela!

Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.
Créditos da imagem: Yuri Vasconcelos - Arquivo pessoal.

Esses foram nossos dias na saudosa Copenhague, a gente viveu cada dia muito intensamente, quase não dormimos, ficamos o tempo inteiro realmente saboreando essa oportunidade. Até a volta foi divertida, tão divertida que quase perdemos o voo, porque sempre tem que ter uma emoçãozinha a mais. Mas deu tudo certo no final, o saldo foi super positivo. O pessoal fala da viagem todo dia ainda, a maioria nem acredita ainda no que aconteceu, porque foi uma realização de sonho tão grande, que para muitas pessoas ali, era um sonho que eles nem se permitiam ter, essa é a realidade. Estava tão além dos sonhos palpáveis que realizar uma coisa tão grandiosa assim foi surreal. Me faltam até palavras para expressar o que isso representou para todo mundo, o gás que deu na torcida, não só das pessoas que foram, mas nas pessoas que vibraram com a gente lá, da quantidade de gente que apareceu querendo fazer parte, querendo torcer, assim, enaltecendo o nosso trampo, então foi incrível.


Não vou agradecer nominalmente a cada pessoa envolvida no processo pois poderia esquecer de alguém, mas a cada dia que passa sou mais fã do meu gestor e amigo Akkari que me influencia, me desafia e me provoca a ser um profissional e uma pessoa melhor a cada conversa. Vamos pras cabeças irmão!

A FURIA mostrou que não só é um movimento sociocultural como de fato realiza todos os esforços possíveis e impossíveis para impactar pessoas e tudo mais que ela comunica, pudemos contribuir para uma internacionalização da marca usando toda nossa brasilidade, histórias e bagagem cultural. Sou muito grato por poder participar dessa força da natureza chamada FURIA e em uma posição que é tão importante para contribuir com esses valores carregados no DNA dessa empresa.

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